FTX : A saga judicial continua em torno do casal Salame-Bond

Quase três anos após o colapso da FTX, a sombra do escândalo ainda paira. Ryan Salame, ex-co-diretor da plataforma, cumpre uma pena pesada, mas seu acordo de delação premiada continua no centro de uma batalha judicial envolvendo sua esposa, Michelle Bond. A justiça ainda busca desvendar as ramificações de um caso explosivo.

Um acordo de delação premiada que volta a assombrar o caso

Ryan Salame, ex-co-CEO da FTX Digital Markets, reconheceu em 2024 ter usado fundos ligados à FTX para financiar ilegalmente campanhas políticas. Condenado a mais de sete anos de prisão, parecia ter virado a página do caso. 

No entanto, seu acordo de delação premiada reaparece hoje no processo contra sua esposa, Michelle Bond.

Candidata política e personalidade influente do setor financeiro, Bond enfrenta acusações de conspiração e financiamento eleitoral ilegal. Seus advogados pedem ao tribunal que ouça seu depoimento, destacando que o estado de espírito da Sra. Bond e de seu marido no momento do acordo continua sendo um elemento-chave do caso.

Em outras palavras, entender as motivações de Salame ao se declarar culpado pode desempenhar um papel central em sua defesa.

Mas na última sexta-feira, os promotores rejeitaram esse pedido, considerando esse depoimento sem ligação direta com o caso. Para a acusação, Bond não pode instrumentalizar o acordo feito por seu marido para aliviar suas próprias acusações. 

Esse novo confronto judicial ilustra mais uma vez a complexidade das ramificações jurídicas deixadas pela queda da FTX.

FTX, uma saga sem fim para a justiça e os mercados

O caso Salame-Bond não acontece em um ambiente isolado. Está inserido em um contexto onde os credores da FTX ainda aguardam reparação após o colapso da plataforma. 

O FTX Recovery Trust confirmou aliás o desbloqueio de 1,6 bilhão de dólares adicionais em 30 de setembro, terceira onda de reembolso desde fevereiro. No total, 7,8 bilhões já foram restituídos.

Esse movimento massivo de capitais suscita tanto esperança quanto preocupação. Para alguns credores, é finalmente a oportunidade de recuperar seus fundos, às vezes até além de 100% para pequenas dívidas. 

Mas, para o mercado cripto como um todo, a súbita injeção de liquidez levanta questões: esses montantes serão reinvestidos, retirados ou desencadearão novas turbulências em mercados já frágeis?

Esse contraste entre reembolsos espetaculares e processos penais prolongados revela a dupla ruptura deixada pela FTX. De um lado, o aspecto econômico, marcado pela restituição parcial das perdas; do outro, o aspecto judicial, ritmado por julgamentos, acordos de delação premiada e disputas intermináveis. Cada novo episódio judicial recorda a dimensão do escândalo e impede que a indústria vire definitivamente a página.

O caso Salame-Bond encarna perfeitamente esse paradoxo: enquanto os reembolsos oferecem um alívio aos credores, o caso judicial mantém uma sombra persistente no ecossistema. Para reconquistar a confiança dos investidores, o cripto terá que não apenas quitar as dívidas da FTX, mas também tirar lições de uma falência histórica que continua a envenenar sua reputação.